Hortênsias
(Poema Homenagem)
Silas
Corrêa Leite
ontem eu vi Oscar Niemeyer
numa avenida paulista
tomava caldo-de-cana
como se espremesse frutas
bebia daquela doçura
como quem apalpa um halo
e olhava os horizontes
querendo, neles, pôr calço
ontem eu vi Oscar Niemeyer
que é menor que gabirova
pequeno como candura
sem pose de ser medida
tinha sonhos sem cimento
estática como um emissor
e punha reparos nas coisas
da Augusta Sampa embrutecida
ontem eu vi Oscar Niemeyer
descendo a Rua Augusta
(ou seria a Mário de Andrade
pois que não apreciei direito?)
tinha palavras em si
como cabem na videira
e ouvia com prazeirança
os ruídos do progresso
ontem eu vi Oscar Niemeyer
entre uma bodega , um circo
nem preciso dizer direito
tenho certeza , era ele
parecia com Juscelino
um pouco com Burle Marx
mas era tão brasileirinho
como uma palmeira ao sol
(meus alunos não acreditaram ;
minha mulher disse - é incrível
- mas eu só acredito vendo -
falou-me, sem entusiasmo)
tapei o sol com peneira
olhei para uma árvore , vi
também ela era ele sim
pois se muito me parece.
ontem eu vi Oscar Niemeyer
chispando pegar um táxi
foi-se embora antes da chuva
com sua postura Brasília
fiquei olhando seu corpo
caldo de cana-de-açúcar
depois fui camelar hortênsias
num dia de todos os santos
Silas Corrêa Leite é poeta, professor e mora em São Paulo (SP). Membro da
UBE - União Brasileira de Escritores, autor de "Trilhas & Iluminuras",
poemas, Coleção Prata Nova, Editora Grafiti - RS, 1995. Seu poema
"Cara(s)Vel(h)as" foi premiado no Concurso de Poesia do SESC/Rotary de Cornélio
Procópio - Paraná, em 2.000. Autor do e-book "O Rinoceronte de Clarice" e
"ELE está no meio de nós".
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